Eram alguns homens, como passageiros comuns... Sentei-me perto deles, nos bancos altos, onde as crianças preferem sentar. Senti algo estranho ao pegar àquele ônibus. Vez ou outra isso acontece, mas ainda teimo com minhas
sensações... Lá estava eu prestes a ver um minucioso crime.
Ao terminar a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, alguns minutos se destinam ao próximo ponto, onde há uma grande movimentação de passageiros. Ora para saltar, ora para entrar no ônibus. Dessa vez, eram cinco passageiros querendo deixá-lo.
Ao terminar a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, alguns minutos se destinam ao próximo ponto, onde há uma grande movimentação de passageiros. Ora para saltar, ora para entrar no ônibus. Dessa vez, eram cinco passageiros querendo deixá-lo.
Enquanto uma mulher, a primeira que
desceu, estava se segurando no banco pela brusca freada
que dão os ônibus, um homem mecheu em sua bolsa. Era uma bolsa pequena e
preta e o homem era mais velho e branco. Com pouco mais de meia idade, eu
acompanhara cada movimento do rapaz, que eu ainda não sabia se acompanhara a mulher ou se estava furtando-a. Continuei a olhar. Depois, com testas franzidas, olhei para a frente. Mas meus pensamentos não
paravam. Pensei eu, ingenuinamente, que isso não poderia estar
acontecendo. Eu olhara, e o homem em minha direção, separado apenas pelo
corredor, também. Depois, nos olhamos. De novo. Agora, cada qual com sua testa
franzida. Senti nele a mesma dúvida que permeava minha mente. Mas ainda teimei com minha sensação. Não poderia ser um roubo tão minucioso assim...
Torci para que a mulher olhasse. Falei cinco vezes para meus pensamentos. Ela olhou. Mas olhou só a bolsa e neste instante o malandro já havia guardado o objeto e retirado os rastros, com toda sua velocidade, de qualquer pequeno crime. Pequeno! Ora, crime é crime! Todos são grandes! Olhei novamente e neste mesmo instante o homem, separado de mim pelo corredor, se levantou com seus olhos voltados para mim. Dessa vez, não era um olhar comum. Nem com testas franzidas. Era um olhar instigante. Percebera, ele, que eu havia acompanhado tudo.
Torci para que a mulher olhasse. Falei cinco vezes para meus pensamentos. Ela olhou. Mas olhou só a bolsa e neste instante o malandro já havia guardado o objeto e retirado os rastros, com toda sua velocidade, de qualquer pequeno crime. Pequeno! Ora, crime é crime! Todos são grandes! Olhei novamente e neste mesmo instante o homem, separado de mim pelo corredor, se levantou com seus olhos voltados para mim. Dessa vez, não era um olhar comum. Nem com testas franzidas. Era um olhar instigante. Percebera, ele, que eu havia acompanhado tudo.
Tardiamente percebi que esses olhos de
ameça estavam juntos com as mãos de quem mexera na bolsa da mulher. O homem não me olhara com a mesma dúvida. Me olhara para meu silêncio. Em mais uma sensação, pensei não ter sido eu a única a observar o roubo. Era tanta gente... Mas, de nada serve uma multidão.
Os malandros se entreolharam e gritaram pelos olhos para meu silêncio.
Os
relógios marcavam alguns minutos para uma da tarde e a rua
movimentada, em horário de almoço, estava quieta, apesar de toda a pressa humana. Ali, desceram os passageiros. Cada um para um
lado. Sem qualquer olhar para trás, os malandros se foram. De fato, agora, a mulher não conhecia os homens, nem mesmo
percebera qualquer movimento em sua bolsa. Descera, e foi embora. Eu
quis gritar pela janela. Mas escolhi o arrependimento até agora. Preferi
ser um pouco como os outros. Preferi o egoísmo de seguir e olhar para
trás com a dúvida se o crime acontecera ou não.
Bianca Garcia
Já presenciei algo semelhante, e assumi a mesma postura. Por mais indignados que sejamos, quando a realidade nos atinge com tanta força e tão subitamente, parece que voltamos ao medo da infância, e nosso instinto parece gritar para que não sejamos uma nova vítima.
ResponderExcluirNessas horas, tenho certeza: as pessoas são muito mais corajosas na ficção.