Cá estava eu sofrendo com mais finais de breves encontros. Sofro quando penso que jamais poderei ver àquele lindo senhor, ou àquela menina que sorriu para mim no último minuto de uma viagem coletiva, o pequeno dos olhos verdes com aparência fraca,
a mulher do sol e do tiro, os gringos deslumbrados com a beleza do Rio ou este sábio senhor. De
repente tenho certeza que nada acontece por acaso de fato. Vez ou outra
fico em dúvida, mas no final das contas tenho certeza de que as
coincidências não existem.
Enquanto
eu lia um livro e grifava as partes que deveriam ser lembradas para
sempre, o senhor que
estava ao meu lado ficara olhando. Intercalara o olhar, ora para frente
ora para o livro. O olhei. E ele não hesitou em perguntar se estas eram
as partes que eu tinha que estudar. Respondi que não, eram apenas as
partes que eu considerava mais importante. Era um senhor humilde que
voltava para casa depois de uma longa rotina de trabalho - rotina esta
que ao meu ver nem poderia praticá-la mais. Era um senhor, destes com
quem a gente aprende sobre a vida em um aula especial de pouco menos de
uma hora.
De
repente o senhor começou a dizer lindas coisas. Talvez óbvias, mas às
vezes só enxergamos algo quando alguém nos dizem... O sábio senhor
começou a dizer sobre tempo e sorte. Disse-me que são para todos.
Começara a dizer, então, sobre as lutas que a gente enfrenta durante a
vida. Disse, com toda convicção, que a gente só não consegue as coisas
que pretendemos por falta de luta. E, sem terminar por aí, o senhor
disse que esta luta
acontece também no amor. Disse-me que até no amor há luta e me garantiu
que é preciso lutar para que ele não se vá. Indagando-o em meus
pensamentos, perguntei por que não era o outro lado
do amor quem ouvira suas palavras.
O
sábio senhor disse-me ainda que a felicidade também está para todos.
Explicou, porém, que a
felicidade só fica se a gente quiser e lembrou que tem gente que não
quer, embora diga o contrário. Disse que nem a pessoa sabe que ela mesma
afasta a felicidade. Assim ele contou que acontece também com o amor.
Mas, sem se esquecer nem um minuto da beleza deste sentimento, ele disse
que só o amor consegue nos deixar sorrindo, sem que nada nos aborreça.
Disse que o amor é sublime, mas frisou que para tê-lo é necessário
lutar.
Após mostrar-me sua sabedoria e chegarmos ao fim deste repentino encontro, o sábio senhor disse, sorrindo, sobre as pessoas que se fecham para o mundo e que não estão disponíveis nem para uma conversa. Agradeceu-me, mas mal sabe ele que eu quem o agradeceria para sempre. Desejou-me tudo
de bom e muitas coisas lindas. Fiz o mesmo e me despedi, mais uma vez,
destes breves encontros.
E transitando de um lado para o outro neste caos urbano ainda consigo encontrar anjos ao invés de pessoas...