Era quarta-feira 9 de novembro. E, em um dos cenários mais
bonitos da cidade, passava o carro cujo traficante da maior favela da América
Latina estava escondido. Segundo a polícia, era uma tentativa de fuga. Mas fora
impedida por sua fabulosa atuação. É comum aqui no Rio que os carros luxuosos
sejam parados, ainda mais quando se trata de um bairro nobre. Era nada menos
que a Lagoa Rodrigo de Freitas.
Antônio Francisco Bonfim Lopes era
o chefe do tráfico na Rocinha há seis anos. Um homem de meia idade, dono do
morro e pai de sete crianças deve ter bastante respeito entre os bandidos e uma
população próxima à essa realidade. Caso contrário não teria esse poder, não
seria o “mestre”, o “presidente” – como ouvi dizer que era chamado por quem
convivia com ele.
Era fim da noite de quarta e as
notícias não poderiam ser outras: a captura do mais temido e procurado
traficante do Rio. Seu rosto estampava os jornais e sua nova aparência não foi
surpreendente. A foto que a polícia tinha para reconhecê-lo era bem antiga. O sorriso
largo, o cabelo colorido – metade castanho, metade loiro, e a magreza não mais
faziam parte da fisionomia do Nem. Quando preso, o traficante vestia uma blusa
social toda fechada e um rosto completamente diferente.
Depois, no jornalismo, só se falava
disso. As imagens se repetiam como se Nem fosse um grande troféu. E a chegada do traficante na sede da
Polícia Federal, na Zona Portuária do Rio, também preencheu um grande espaço na
grade das emissoras. Ouvi telespectadores reclamarem. Mas a mídia ainda não
percebeu essa sua falha em repetir imagens, assuntos ou até reportagens.
Logo a notícia correu mundo a fora
e os jornais de outros países noticiaram o fato. Afinal, faz parte do projeto
que vislumbra um Rio seguro, fora das mãos dos traficantes e do poder paralelo.
Um Rio de Janeiro controlado pela eficácia da segurança pública promovida por
Sérgio Cabral e, o secretário de segurança do estado, José Mariano Beltrame e
não mais pelo medo – que no final, continua acerca dessa sociedade acuada que
nos tornamos.
É este o peso que grandes eventos
esportivos mundiais trazem à cidade: “é recuperar o tempo perdido”. E perdido
por autoridades que nunca se importaram – e continuam a não se importar - com
as consequências de uma política ineficaz, uma política que não tem sentido
quando se estuda a origem dessa palavra.
Mas, dizem algumas pessoas e
algumas matérias que Nem já pretendia se entregar. Então, sabe-se lá sobre a
linha - tênue - que separa sua prisão e sua entrega.
Bianca Garcia