quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Lá do outro lado


Do lado de cá não tem morro com bondinho, nem morro com estátua. Não tem monumentos pelas ruas, nem estátua de artistas. Não tem cultura a céu aberto, nem visitantes circulando. Não tem praia na esquina, ou no quarteirão seguinte. Não tem prédio pra todo lado inibindo a nossa vista. Não tem calçadão bonito, nem jardins de muitas plantas. Não tem parques espalhados, nem museus de história viva. Não tem campos bem gramados para um futebol de quinta. Nem mesmo lagoas de água poluída... Mas tem gente que dá bom dia para gente desconhecida. 

Bianca Garcia

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O limite entre o jornalismo e a violência

Segundo o Insi (Instituto Internacional de Segurança da Imprensa), mais de 1.200 jornalistas morreram, nos últimos dez anos

No Brasil, dezenove jornalistas morreram exercendo sua profissão entre os anos de 1994 e 2011 – dentre eles estão Tim Lopes, em 2002, e Gelson Domingos da Silva, em novembro deste ano. Segundo a CPJ (Committee to Protect Journalists), esse número se refere apenas a mortes com motivos confirmados, quando uma investigação conclui que o profissional foi morto em represália direta por seu trabalho, seja em realização de uma tarefa de risco, como no caso de Tim Lopes, seja por fogo cruzado, como, agora, com Gelson Domingos.

A morte de Gelson Domingos, em novembro, levantou diversas indagações sobre o desempenho da atividade profissional jornalística em situações de risco. Como ficou evidente com a morte de Gelson, o colete à prova de balas usado pelos profissionais de imprensa não dá conta de disparos efetuados por fuzis e outras armas de guerra usadas pelos traficantes do Rio. Para o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azedo, este caso pode ser o gatilho para que as autoridades imponham limites na cobertura da imprensa em situações de risco.

Para o Coronel Frederico Caldas, coordenador de Comunicação Social da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, deve haver limites para a cobertura jornalística em situações de conflito. “Nós sabemos muito bem que essa palavra limite tem uma conotação preocupante para a mídia, mas é preciso que nós tenhamos limite, sim, especialmente quando tratamos da vida de pessoas. Nós não temos como controlar o trabalho da imprensa porque não nos cabe isso, o trabalho da imprensa é fundamental para informar o cidadão. Mas é o momento de refletir até que ponto vale à pena buscar a informação a qualquer custo”, afirma.


Intervenção da polícia em coberturas de risco


A luta travada entre as várias facções que dominam as favelas do Rio torna a cobertura jornalística um ato tão complexo e perigoso como os concebidos em áreas de guerra. Hoje, com a implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), há uma redução da atuação dos marginais nessas áreas, mas, mesmo assim, ainda ocorrem conflitos, e a imprensa deve estar presente para mostrar à sociedade a atuação do Estado nessas regiões, após anos de descaso e ausência.


Segundo Ricardo Boechat, âncora do Jornal do Band e da BandNews FM, a polícia deve intervir em coberturas jornalísticas. “Concordo que a margem de risco de jornalistas que cobrem conflitos é elevada. No caso do Rio de Janeiro, elevadíssima. Acho que a melhor palavra para dizer se o terreno está minado ou não, no momento da ação, é da autoridade policial”, alerta.

Por Bianca Garcia em O Estado RJ

Observação:
Esta matéria foi publicada no dia 07 de dezembro na Editoria Estado.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Contra a injustiça em defesa do Rio: política ou espetáculo?

Marcado pelo entretenimento, protesto no Rio tenta sensibilizar Dilma e o Congresso

No último dia 10, o centro do Rio esteve reservado a uma manifestação promovida pelo governador Sérgio Cabral (PMDB), cujo lema era “Caminhada Contra a Injustiça em Defesa do Rio”. Com o objetivo de protestar contra as novas regras de distribuição dos royalties do petróleo, em breve pronunciamento, Cabral afirmou que o Estado do Rio não vai ceder ao projeto de lei que, segundo ele, prejudicaria o Estado.  “Nós não vamos ceder um real sequer do que já foi licitado por respeito ao diálogo e à democracia. O Rio é um estado essencialmente democrático, mas não vamos aceitar que avancem sobre receitas garantidas ao nosso povo”, garantiu Sérgio Cabral aos manifestantes.

O ato público contou com uma elaborada preparação. Dias antes do acontecimento, Sérgio Cabral afirmou que esperava a presença de cerca de 100 mil manifestantes para sensibilizar a presidenta Dilma Rousseff e o Congresso Nacional. Cabral promoveu uma coletiva de imprensa para convocar a população, decretou ponto facultativo – medida também tomada pelo prefeito Eduardo Paes -, espalhou faixas pela cidade e liberou meios de transporte para as pessoas irem à manifestação (ônibus pagos para as pessoas de Macaé e Campos e passagem gratuita nos horários de ida e volta para todos os moradores do Rio nos períodos de 13h às 15h – início da manifestação - e 20h às 22h – fim dos shows).


Apesar do apelo e da urgência da questão enfatizada pelo governador do Rio, nem todos os cariocas estavam de acordo com as justificativas apontadas para a realização do evento. Segundo o professor universitário Fábio Candido, a manifestação indicou “o desespero de um governo que teme perder uma receita importante para a manutenção de um certo projeto político, não necessariamente compatível com o bem estar do povo ao qual deveria se destinar”.


Para o humorista Anderson Gago, “o governo está usando o povo mais uma vez como massa de manobra, porque as pessoas não estão cientes do que realmente está acontecendo. Muita gente nem sabe o que são os royalties e acha que é uma marca de gelatina. Ao passar pela manifestação, vi um trio elétrico tocando Katy Perry, parecia mais uma parada gay do que uma manifestação séria em prol dos royalties do petróleo”.

Ao que parece, a “Caminhada Contra a Injustiça em Defesa do Rio” se tornou uma questão de números e de manipulação de uma imagem política. Com direito às mais variadas formas de espetáculo: trio elétrico, animador de plateia e shows com cantores e grupos populares. Também estiveram presentes no evento personalidades políticas e celebridades televisivas.


As manifestações têm pesos diferentes

O evento ocorrido na Cinelândia mostrou que a praça, outrora palco de grandes manifestações políticas, estava partida. De um lado, os manifestantes do “Ocupa Rio”, cuja visibilidade foi ignorada. Do outro, os participantes da “Caminhada Contra a Injustiça em Defesa do Rio”, que demonstravam estar radiantes ao som de bandas e cantores populares. Mas a “Caminhada” evidenciou, acima de tudo, o interesse do Governo do Estado em manter investimentos no Rio, mesmo que para isso tenha tido que decretar ponto facultivo para o funcionalismo público e realizar toda sorte de ações para chamar a atenção da população e da imprensa.

Por Bianca Garcia em O Estado RJ


Observação:
Esta matéria foi publicada no dia 12 de novembro na Editoria Estado.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A mídia da captura


Era quarta-feira 9 de novembro. E, em um dos cenários mais bonitos da cidade, passava o carro cujo traficante da maior favela da América Latina estava escondido. Segundo a polícia, era uma tentativa de fuga. Mas fora impedida por sua fabulosa atuação. É comum aqui no Rio que os carros luxuosos sejam parados, ainda mais quando se trata de um bairro nobre. Era nada menos que a Lagoa Rodrigo de Freitas.

Antônio Francisco Bonfim Lopes era o chefe do tráfico na Rocinha há seis anos. Um homem de meia idade, dono do morro e pai de sete crianças deve ter bastante respeito entre os bandidos e uma população próxima à essa realidade. Caso contrário não teria esse poder, não seria o “mestre”, o “presidente” – como ouvi dizer que era chamado por quem convivia com ele.

Era fim da noite de quarta e as notícias não poderiam ser outras: a captura do mais temido e procurado traficante do Rio. Seu rosto estampava os jornais e sua nova aparência não foi surpreendente. A foto que a polícia tinha para reconhecê-lo era bem antiga. O sorriso largo, o cabelo colorido – metade castanho, metade loiro, e a magreza não mais faziam parte da fisionomia do Nem. Quando preso, o traficante vestia uma blusa social toda fechada e um rosto completamente diferente.

Depois, no jornalismo, só se falava disso. As imagens se repetiam como se Nem fosse um grande troféu. E a chegada do traficante na sede da Polícia Federal, na Zona Portuária do Rio, também preencheu um grande espaço na grade das emissoras. Ouvi telespectadores reclamarem. Mas a mídia ainda não percebeu essa sua falha em repetir imagens, assuntos ou até reportagens.

Logo a notícia correu mundo a fora e os jornais de outros países noticiaram o fato. Afinal, faz parte do projeto que vislumbra um Rio seguro, fora das mãos dos traficantes e do poder paralelo. Um Rio de Janeiro controlado pela eficácia da segurança pública promovida por Sérgio Cabral e, o secretário de segurança do estado, José Mariano Beltrame e não mais pelo medo – que no final, continua acerca dessa sociedade acuada que nos tornamos.

É este o peso que grandes eventos esportivos mundiais trazem à cidade: “é recuperar o tempo perdido”. E perdido por autoridades que nunca se importaram – e continuam a não se importar - com as consequências de uma política ineficaz, uma política que não tem sentido quando se estuda a origem dessa palavra.

Mas, dizem algumas pessoas e algumas matérias que Nem já pretendia se entregar. Então, sabe-se lá sobre a linha - tênue - que separa sua prisão e sua entrega.

Bianca Garcia 

domingo, 13 de novembro de 2011

Cultura para quem pode pagar

Para quem se destinam os eventos culturais da cidade carioca?
São muitos os motivos que  trazem a infinidade de programas culturais cercando a cidade, inclusive, porque os maiores nomes da música brasileira, e até da estrangeira, têm o Rio como um ponto fixo de sua turnê pelo mundo. Os cariocas não podem reclamar da diversidade cultural que possuem ao seu redor. No entanto, ao tratar de valores, muda-se o cenário. Cultura é, então, um programa para a elite?
Em novembro, a elite carioca poderá contemplar o show de João Gilberto, músico brasileiro considerado o criador da Bossa Nova. Tendo sua apresentação realizada no Teatro Municipal, os ingressos variam de R$ 600 a R$ 8.400 reais. Neste caso, somente as classes altas poderão estar presentes. Um evento segregatório, já que membros da classe C, inclusive, não poderão pagar pelo valor desse ingresso. E, assim, também acontece com os espetáculos do Cirque du Soleil, onde as apresentações se restringem a um público fixo.

Segundo uma pesquisa realizada pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em 2010, os elevados valores excluem parte dos brasileiros quando se trata do “consumo” de cultura. A grande maioria dos entrevistados afirmou que os preços altos são obstáculos ao acesso à oferta cultural, sendo que 71% concordam que esse ponto é um importante empecilho à fruição de bens culturais. No entanto, 25% discordam e acreditam que os preços não se constituem em problema.

Cultura para quem?

Shows com preços acessíveis, eventos em praças públicas, museu com entrada franca, passeios históricos ao ar livre e peças teatrais com valores irrisórios existem pela cidade, mas quando se trata de ícones históricos, com presença no Rio, os eventos reúnem apenas a elite carioca. No entanto, cultura deveria ser para todos. “O governo ou os realizadores dos eventos elevam o valor dos ingressos com o objetivo de elitizar ou tentar fazer isso. E, dessa forma, a classe baixa tem que se contentar com os shows gratuitos nas areias de Copacabana e no Piscinão de Ramos em épocas festivas. Não há igualdade em nada, no final das contas, todo mundo é separado pela classe social”, indigna-se a estudante Tamires Ribeiro.

“A precificação atual de alguns grandes eventos tem como consequência elevar mesmo os níveis das pessoas no local, acredito. Mas existem eventos gratuitos, como o Rio Cello Encounter, por exemplo, onde a maioria faz parte das classes mais altas, como A e B. Na verdade, percebo que o maior problema atualmente recai sobre a meia-entrada para estudantes. Os organizadores de grandes eventos andam dobrando ou quadruplicando os valores dos ingressos para poder cumprir a lei de meia-entrada, que ao invés de possibilitar o envolvimento maior com a cultura, se tornou uma indústria de descontos”, completa a designer e empresária carioca, Cristiana Marroig.

Rio de Janeiro e os maiores eventos esportivos

O brasileiro, culturalmente, gosta e aprecia o futebol. Mas a Copa do Mundo e as Olímpiadas que acontecerão no Brasil, em 2014 e 2016, serão exemplos de como os elevados valores na arte e até no entretenimento segregam a sociedade. Fala-se apenas em valores. A superlotação dos estádios ainda não foi mencionada, já que os clássicos lotam os estádios cariocas sem qualquer esforço e em qualquer época do ano. Mas os cariocas esperam um preço justo para este evento que é uma de suas paixões.

Por Bianca Garcia em O Estado RJ


Observação:
Esta matéria foi publicada no dia 28 de outubro na Editoria Cultura.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Imagine

Imagine um mundo sem autoridade. Um mundo onde todos os espaços são de todos. Imagine um mundo sem shopping center. Um mundo sem passos controlados. Imagine um mundo onde as calçadas são livres para permanecer no caminho e não mais símbolo da miséria. Imagine um mundo onde as pessoas fazem o que gostam e não pensam em quantias. Imagine um mundo onde as pessoas não se preocupam com cores, origens, contas bancárias. Aliás, imagine um mundo sem bancos. Sem bancários. Imagine um mundo sem crianças abandonadas. Sem árvores derrubadas. Imagine um mundo sem fome e sem morte por desigualdade. Imagine um mundo onde as crenças são respeitadas. Imagine um mundo onde existe respeito. Imagine um mundo onde a favela e o asfalto são um só lugar. Imagine um mundo onde os interesses individuais não sobrepõem o interesse coletivo. Imagine um mundo onde não exista uma indústria que fomente a guerra. Imagine um mundo onde não há medo pelo outro. Imagine um mundo onde as ruas são verdadeiramente um lugar de liberdade. Imagine um mundo onde existe liberdade... Imagine um mundo sem poder.

Bianca Garcia

sábado, 29 de outubro de 2011

Avenida Brasil: via austera carioca

Má conservação e elevado índice de acidentes traçam o curso da avenida mais famosa do estado


Com sessenta quilômetros de extensão, a Avenida Brasil é a principal via que liga a Zona Oeste do Rio de Janeiro ao Centro da cidade. Mas em todo seu percurso ela intercepta cerca de 30 bairros e possui saída para outras importantes vias como a Rodovia Rio-Santos, Via Dutra, Rodovia Washington Luís, Linha Amarela, Linha Vermelha e Ponte Rio - Niterói.


Segundo a Prefeitura do Rio, a Avenida Brasil recebe o maior fluxo viário do Rio de Janeiro, obtendo cerca de 250 mil veículos por dia. No entanto, é válido ressaltar a péssima malha rodoviária que os cariocas encontram por esta avenida, além da violência urbana e, também, da alta frequência de acidentes. O limite das pistas é de até 90 quilômetros por hora, mas o intenso fluxo de carros provoca uma redução significativa da velocidade e um cansativo engarrafamento.


“A Avenida Brasil sempre merece atenção especial da Prefeitura - temos gerências de obras e de conservação que são exclusivas desta área. Sendo assim, optamos por um contrato de obras isolado das demais vias da cidade, que é mais do que a aplicação do programa Asfalto Liso. Serão investidos cerca de R$ 63 milhões nesta restauração”, afirmou o secretário municipal de obras, Alexandre Pinto, sobre os reparos que serão feitos na via.


Mas os que necessitam da avenida dia-a-dia relatam que precisam se prevenir quanto aos horários, principalmente na chamada “hora do rush”. “A Avenida Brasil tem pontos constantes de engarrafamento, mas para piorar temos que contar com imprevistos. Os acidentes são rotineiros, mas, além disso, ficamos apreensivos com o mau estado das passarelas, que já tiveram suas quedas noticiadas. São anos trabalhando no Centro da cidade, anos fazendo o mesmo trajeto e anos que faço as mesmas reclamações”, desabafa Gabrielle Oliveira, moradora da Zona Oeste.


“Os acidentes são ainda mais frequentes em dias chuvosos. Há diversos engavetamentos, inclusive. Em alguns pontos as pistas são bem ruins, mas a falta de sinalização é o grande problema na Avenida Brasil. Quem não conhece o Rio se perde facilmente”, completa Camilla Pires, estudante e também moradora da Zona Oeste.


De toda forma, a Prefeitura do Rio tem de tomar alguma providência quanto aos constantes acidentes na via, que se tornaram comuns aos olhos da mídia e deixaram, inclusive, de ser notícia. Muitas vidas já se perderam e isso não pode fazer parte da rotina, mesmo que seja para quem a atravessa todos os dias.


A história da construção


Em 1906, durante a Era Pereira Passos ocorreu a primeira tentativa em abrir a via para os veículos automotores, que tinha como objetivo facilitar o acesso à capital federal da época, o Centro do Rio de Janeiro. Em 1922 foi feita a primeira viagem de carro à Petrópolis, e Washington Luís durante seu governo aproveitou esse caminho para considerar diversos projetos para a futura rodovia. E para desafogar o tráfego do antigo caminho à Petrópolis, que beirava a Estrada de Ferro Leopoldina, originou-se, na década de 1940, a atual Avenida Brasil (anteriormente chamada de Variante de Acesso à Rio - Petrópolis).

Por Bianca Garcia em O Estado RJ



Observação: 

Esta matéria foi publicada dia 14 de outubro na editoria Estado.

sábado, 22 de outubro de 2011

Rio de Janeiro

Cidade maravilhosa,
do calçadão de Copacabana, do pôr-do-sol do Arpoador, do Cristo Redentor.
Cidade que canta, que encanta.
Cidade do calor, do amor.
Cidade da vida.

Cidade partida.

Bianca Garcia

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Amigos

Os amantes de números pode julgar ser pouco,
Mas que bom não precisar de outra mão para contar os meus amigos de verdade.
Que felicidade!



Bianca Garcia

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Daqui algum tempo


daqui algum tempo

vou arrumar as malas
e vou sair daqui
é disso que preciso


não dá para ficar
no meio dessa gente
que maluca vai estar


no meio dessa gente
que só pensa em dinheiro
não dá pra ficar


daqui algum tempo
eu vou ter que sair
do meio dessa gente


Bianca Garcia

sábado, 15 de outubro de 2011

Às mulheres inimigas do tempo


É difícil ser mulher e tomar conta de tudo. Do trabalho, dos estudos, das contas, dos filhos que vão chegar da escola, do corpo, do marido, da vaidade. Ser mulher, hoje, é correr contra as vinte e quatro horas. E fazer com que essas horas se tornem inimigas.

Ser linda, cheirosa, inteligente, dedicada. Pele macia, bonita, sorriso no rosto. Assunto não pode faltar. Tem que se simpática, estilosa e magra. Se não for tem que ser, no mínimo, bonita e excepcional, é o que dizem. Unhas feitas, maquiagem leve, roupa bonita.

Quanta cobrança! Ser mulher, hoje, é viver da rotina?

Já se foi a época de suas conversas com o fogão. Mas de toda forma, as mulheres de hoje, ainda são dependentes. Pode não ser do fogão e do marido. Talvez da beleza e do poder. As mulheres querem ser vistas, querem ser boas, querem ser lindas. Querem ser como na vitrine.

Não se pode falar em fraqueza, cansaço ou olheiras. Tensões, problemas e relações. Não se pode falar em dores, em ausências, em ternura. Afinal, no final, bonecas não falam, e assim querem ser percebidas.

Ser mulher, assim, é, talvez, ser escrava de sua própria figura.

Bianca Garcia

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Uma nova estrela

Se tiveres que ir, vá em paz

Não sofras ao partir                                                                                                  

Infeliz não podes ficar
No céu a alegria vai chegar
Infinito meu amor por ti
No meu coração eternamente ficará
Hoje estou aqui
Algum dia mais perto de ti

Eu sei que brilhará bem forte
Um adeus nunca vou te dar

Ter você foi bom pra mim
E de ti vou me lembrar

Agora que queres partir
Maria,
O meu coração vai chorar



Bianca Garcia

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Um texto corrido da vida


A efemeridade da vida me assusta. Um dia somos tudo, no outro nada. E essas dimensões acontecem a todo instante em minha vida. Sou de pólos, sou extrema. Quero agora. Quero tempo. Mas e quando ele acaba? Nada fiz. Nada tenho aqui. Temos tempo certo e conscientemente vivemos esse tempo limite, que uma hora vai acabar. A gente sabe, a gente sempre sabe, mas cadê que sabemos de fato? Que confusão estar aqui, que coisa estranha é poder pensar. Estamos sempre pensando e tentando explorar. Nunca nos satisfazemos. Nunca estamos inteiros. Que egoísmo humano, céus. Sei lá essas voltas que a vida dá. Muitas teorias, muitas frases bonitas, muito blábláblá de tudo bem, de maravilha. A vida não é fácil, e nem é bom que seja. Nunca gostei da facilidade, o árduo sempre me encheu os olhos. Mas até quando? Até quando eu suporto, até quando as lágrimas não escorrem pelo meu rosto me permitindo ser forte? Até quando eu não preciso de colo e das histórias bonitas? Até quando quero uma realidade dura, bem dura pra mim? Pra sempre. Mas é pra sempre o tempo que eu suportaria? As pessoas são só pessoas, nada além. Nada. Somos só alguém que temos consciência da morte. Somos diferentes nisso. Temos consciência. Por horas, penso ser mais fácil a vida de um animal comum, não essa complexidade do homem. Os animais (nos retirando desse meio) não se indignam com a política, não pensam no dia seguinte, não deixa de dormir porque seus pensamentos não se aquietam. Não se decepcionam, não questionam os fatos nem mesmo por que existem... Os animais simplesmente vivem. E os homens, esses animais que foram caracterizados de mais evoluídos, talvez, vivam. Mas parcialmente, apenas. Não nos envolvemos por inteiro. Temos medo. Medo do outro, medo do agora, medo de arriscar, medo do que não podemos ver, tocar. Medo do difícil... Medo da tristeza! Mas a vida não é esse pote de ouro que se resume em felicidade tão facilmente assim. Além do mais tem tantas coisas que nos desgovernam. Somos frágeis, assim como quando a saudade. Não tem remédio, não tem consolo. A saudade tem nome. E é nome de gente.

Bianca Garcia

sábado, 10 de setembro de 2011

Os primatas do século XXI

Bem, se o século XXI simbolizasse a evolução humana e, por consequência, a nossa sociedade, certamente esse símbolo revelaria a era primitiva que vivenciamos.

Vivemos em uma sociedade que despreza a história, onde o velho se tornou obsoleto e não mais sinônimo de sabedoria. Vivemos em uma sociedade onde o dinheiro fala mais que o caráter, mas até onde eu acredito ter dinheiro não te faz melhor que outro. Vivemos em uma sociedade onde as novelas comandam o tempo, criam hábitos e lançam moda. Vivemos em uma sociedade onde a hora feliz é a do final do expediente. Vivemos em uma sociedade onde a inteligência é motivo para risadas, onde os livros não são tão bem vistos e a cultura não é valorizada. Vivemos em uma sociedade onde o olhar do outro tem que estar projetado para que as ações estejam de acordo com as leis, caso contrário as burlaria. Vivemos em uma sociedade que despreza sua diversidade cultural. Vivemos em uma sociedade onde há segregação socioespacial. 
Que sociedade é essa que debate sobre novelas ao invés do futuro do país? Que sociedade é essa que abaixa a cabeça para as sujeiras que são arrastadas para debaixo do tapete? Que sociedade é essa que separa os homens por sua cor ou pelo seu dinheiro? Que sociedade é essa onde o símbolo da morte se tornou bacana, “cool” e uma faceta da moda? (Aliás, que moda é essa que cultua o ódio e a banalidade dos símbolos?) Que sociedade é essa que não luta por direitos? Que sociedade é essa que só se vê como nação em época de Copa do Mundo? Que sociedade é essa que está a preferir e-books e audiolivros aos livros de papel? Que sociedade é essa?

Bianca Garcia

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Reclamar, um estranho prazer

As reclamações me incomodam. Não as reclamações a mim e as coisas, mas as reclamações vazias. Me incomodam as reclamações de tudo por nada. Me incomodam as reclamações pelo simples prazer de reclamar.

Não sei bem, aliás, não sei nada do que passa nessas mentes inquietas com a vida e com a rotina. Mas penso que elas, muito provavelmente, tenham esquecido de aproveitar este tempo – que querendo ou não só temos certeza desse que está acontecendo.

Essas insatisfações infinitas me levam a crer que a felicidade (essa coisa subjetiva que muitos tentam exemplificar, mas que não passa da mesmice ou da constatação de sua efemeridade, assim como a vida) é uma missão impossível para essa gente. Pelo que observo cotidianamente mais passam tempo reclamando que usando de forma útil.

Reclamar via redes sociais é agora o mais novo campo no mercado de trabalho. Contudo, deixarei claro que me refiro às reclamações que giram, somente, em torno das pessoas que a fizeram. O que não acontece com o mundo.

Estão sempre insatisfeitas, mas não da forma humana de ser por sua natureza. É como se morressem a cada dia, como se viver fosse um martírio. Como se não sair do edredon quentinho de manhã fosse melhor que praticar o que escolheram. É como se a hora feliz do dia fosse a hora de ir pra casa, para as festas e nunca para o que supostamente seria um prazer contínuo por escolha própria.

Nós só encontraremos a felicidade (por um tempo maior) caso tenhamos prazer no que fazemos. Caso contrário morreremos mesmo, aos poucos, a cada dia, pelo simples fato de se levantar da cama para fazer o que nos destinamos.

Estranho isso. Mas tenho a sensação de que algumas pessoas esqueceram de viver.

Bianca Garcia

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

À empresa de ônibus Pégaso

               Indignada com a situação do transporte no Rio, mais precisamente, para os moradores da Zona Oeste, enviei um e-mail-carta para a empresa de ônibus Pégaso, responsável por algumas linhas com destino ao centro da cidade.

 "Boa Tarde!

Tenho algumas dúvidas a serem esclarecidas quanto a empresa Pégaso, que presta serviço de transporte rodoviário a Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Os destinos ao centro da cidade são sempre marcados pela superlotação e pelas falhas (ônibus que estragam no meio do caminho ou mesmo nos pontos finais). Ou seja, percebemos, nós usuários das linhas 366 (antiga S-14) e 1136, uma ausência de eficácia na qualidade do serviço dessa empresa. Isso tudo porque vocês sabem que a população depende desses automóveis para locomoção?

No site, na aba da História, há o seguinte trecho: "Dessa maneira, a Expresso Pégaso continua se aprimorando para, cada vez mais, servir seus passageiros com qualidade e tradição". Mas agora lhes pergunto: que qualidade? A tradição certamente não é a de manter sujo o nome da empresa nem mesmo de pauta para reclamações. Afinal, que empresário inteligente teria isso como objetivo?

Outra observação grave é o aumento da quantidade de microônibus circulando. É mais barato, como todos nós sabemos, pois dessa forma não há gastos com cobradores. E o motorista? O motorista continua em uma rotina densa e estressante de trabalho, onde ouve reclamações dos passageiros a todo momento - mesmo quando estes compreendem que ele não tem culpa, no entanto, pretendem que as reclamações/sugestões cheguem até os cargos máximos da empresa. Mas isso não acontece.

É uma vergonha que tenhamos que enfrentar, rotineiramente, um ônibus lotado para ir ao trabalho no centro da cidade com uma pista completamente engarrafada - cujo nome é Avenida Brasil, mas dessa vez a culpa não é de vocês. Contudo, o sofrimento não acaba por aí, pois ao sairmos do trabalho enfrentamos grandes filas e uma longa espera na chegada do ônibus no ponto final da linha 366 (antiga S-14). Ao chegar, o microônibus é rapidamente preenchido e já sai completamente cheio. Mas como há mais pontos até o final da Presidente Vargas, podem imaginar como o ônibus não passa pela Brasil.

Ainda, quanto as filas, elas também ocorrem no Terminal Menezes Cortes com a linha 1136, cuja passagem é bem mais cara. Porém , menos cheio já que não são todos os trabalhadores que podem pagar por essa passagem - R$8,00 para apenas um ônibus é incompatível com muitos salários cariocas.

Por fim, gostaria de entender até quando as passagens vão continuar aumentando e a qualidade no serviço diminuindo?

Aguardo uma resposta clara e sincera.

Desde já agradeço a atenção, visto que não são todos que ouvem ou lêem atentamente uma crítica.

Grata,
Bianca Garcia."

             Enviado em 22 de junho de 2011 não obtive respostas até hoje, incompletos dois meses de "espera". Entre aspas porque eu não poderia esperar explicação alguma de um serviço desorganizado, irresponsável e que despreza seus usuários.
            Ah, mas certamente se respondessem eu receberia promessas de melhorias e reparos. Sendo assim, prefiro não receber nada mesmo. As mentiras são mais desreipeitosas que a ausência de respostas. 


Bianca Garcia

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Rio, a cidade codinome

É realmente esse Rio de Janeiro o palco da Copa do Mundo de 2014 e das Olímpiadas de 2016? Claro que não, existe outro e, eu, completamente alienada quem não sabia. Porque não seria possível um consenso de falta de inteligência entre tanta gente junta ou mesmo de ingenuidade, palavra esta que não é do conhecimento de gente do governo.
Os nossos digníssimos representantes, do país e também do estado carioca, não acreditariam que a cidade maravilhosa, a cidade das Unidades de Polícia Pacificadora e a cidade partida poderia nesses tempos receber os maiores  eventos esportivos do mundo. O Rio de Janeiro, o que eu conheço, não tem nenhum preparo para que os olhos do mundo estejam voltados pra ele. Não tem preparo físico, estrutural nem mesmo organizacional. É, deveriam ter pensado muito bem antes de ter comemorado a escolha do Brasil como sede olímpica, porque será um escândalo a destruição de toda a imagem construída ao longo dos anos. Um mês por aqui pode não tirar a máscara que impuseram na nossa cidade, mas será o bastante para perceberem que o Rio de Janeiro ultrapassa as curvas do Pão de Açúcar, as areias de Copacabana e o pôr do sol no Arpoador.
Parte dessa beleza enaltecida se perde quando se percebe as calçadas preenchidas por pessoas que são menosprezadas, simplesmente esquecidas e invisíveis sob os olhos do governo e da população fria e ignorante que nos tornamos. O Cristo Redentor deixa de ser bonito quando sob ele, há um assalto dentro de ônibus cujas pessoas foram feitas de reféns durante uma hora, algumas baleadas e gravemente feridas. As coisas pioram quando você percebe que essa é apenas mais uma cena se repetindo – pois ela aconteceu não só em 9 de agosto de 2011 como também em 12 de junho de 2000 e, ainda, reproduzida pela indústria cinematográfica brasileira (que, inclusive, “Ultima Parada 174” é imperdível).
É realmente nesse Rio que as coisas vão acontecer? É mesmo em uma cidade onde o medo é quem a domina? É em um estado onde falta segurança, infraestrutura e outras coisinhas mais?

Bianca Garcia

sexta-feira, 29 de julho de 2011

UPP: Unidade para Político se Promover

O que, obviamente, tem um misto de política e comunicação midiática.

             Ah, o apoio da mídia não é nenhuma novidade quando se trata de política – não é nenhum esforço pra ela e temos de reconhecer. Aliás, não é nenhum esforço bem como é de sua vontade, pois ninguém é obrigado a nada, a menos ao que queira – se é que lhe fiz entender-me. A mídia formal apresenta os aniversários, que ontem, incluisve, foi a vez da UPP do Andaraí. Mas a cada instalação, a cada novidade e a cada um ano completo, a máscara de positividade no morro é produzida pela mídia formal. Até quando vamos acreditar no que ela diz? Ou vocês acreditam mesmo que os moradores têm adorado o trabalho da polícia e que o morro vive em paz desde a chegada dela? Tá, mas vocês podem argumentar: mas as pessoas vão até a televisão para falar. Não, a “televisão” vai até essas pessoas porque a pauta do dia tinha como objetivo favorecer o prefeito, o governador, o estado e, para isso, as mentiras de melhorias na saúde e na segurança, efeitos positivos na vida da população e as obras (paradas, inacabadas e intermináveis – mas não são essas que aparecem) no estado é matéria comprada. Sim, com vergonha do meu país nesse momento, digo-lhes que isso existe!
Mas, enfim, a situação chega ao extremo quando as Unidades de Polícias Pacificadoras não são um projeto para o todo do estado. Disse o Beltrame, um dia, que pretende pacificar todas as favelas, porém, ainda não tem o contigente policial para assegurar todas. Tudo bem, a gente espera usufruindo das consequências, que já podem ser percebidas. Os assaltos na zona oeste (bem como em outras partes do Rio) cresceram, e a explicação seria que nos últimos dias nasceram centenas de assaltantes? Não dúvido nada de uma entrevista com nossos representantes afirmando esse infortúnio. Mas pensando bem eles podem imaginar que a violência está se transferindo de uma região para outra, de um bairro para outro (tá, eu sei que eles não afirmariam isso).
O fato é que de nada adianta ter UPP se o objetivo oficial não for acabar com o tráfico e reduzir a criminalidade – o que na realidade, não começaria com as UPP`s, elas seriam apenas o final do processo, ou, talvez, nem precisariam existir. Contudo, segurança pública não se restringe ao aumento de contigente policial nas ruas, aliás esse aumento significa um problema. Segurança pública não se resume à polícia, este é um termo muito mais abrangente cujo ponto crucial é a educação. Mas que no Brasil... 
                E terminando por falar nesse lindo gigante, é uma lástima que tenha tanto problema: temos uma educação que não funciona, uma saúde que não funciona, um transporte que não funciona. Temos uma política que não funciona!

Bianca Garcia

sábado, 2 de julho de 2011

Espelho

Embora eu acredite que sempre haverá alguém a nos observar, eu não preciso que alguém esteja me olhando para ser sincera. Eu não preciso que alguém esteja me olhando para ajudar um desconhecido, nem mesmo para me levantar de um banco quando julgar necessário que outro sente. Eu não preciso de olhos a me seguir quando pratico a bondade. Nem mesmo para ser fiel. Eu não preciso que olhos me acompanhem para obedecer às regras impostas à mim por mim mesma. Nem para àquelas, impostas pela sociedade num todo, que a gente tenta negar a existência. Eu não preciso que me vejam para que eu possa ser educada. Num bom dia, boa tarde ou boa noite ao desconhecido, eu não preciso que ele me veja – é, muitas vezes não me vêem e o meu desejo volta pra mim como num eco. Eu não preciso que alguém esteja me olhando para ser gentil. Eu não preciso que alguém esteja me olhando para que eu me vista bem. Eu não preciso de olhos a me seguir para que eu cumpra com minhas responsabilidades. Nem para que eu seja responsável. Eu não preciso que olhos me acompanhem para que eu respeite alguém – independente da idade e do grau de conhecimento. Nem mesmo para que eu demonstre meus sentimentos. Eu não preciso que alguém esteja me olhando para que eu seja justa. Nem mesmo para que eu realize uma ação. Eu não preciso de olhos a me seguir para que eu cultive uma amizade, ou várias. Nem mesmo para mudar. Eu não preciso que olhos me acompanhem para que eu me dedique à algo ou à alguém. Ou mesmo para que eu seja leal. Eu não preciso que alguém esteja me olhando... Eu só preciso dos meus olhos em mim mesma.

Bianca Garcia

domingo, 26 de junho de 2011

Da benevolência humana

Diante de tudo, existem aqueles que lutam pro mundo e os que lutam em seu mundo. E não importa em qual mundo se luta. O importante é não sossegar quando a paz inexiste no homem.


Religião e ciência tentam explicar as raízes da vida. Mas as dúvidas são constantes e inevitáveis. E o motivo pelo fim nunca é entendido. Crescemos sabendo que temos “data de validade”, mas não entendemos quando essa data é expirada para alguém próximo da gente, ou para nós mesmos. Contudo, todos os espantos vistos por aqui não nos deixa querer ir embora. Mas, como se não bastassem as enfermidades ou mesmo o próprio fim da vida, ainda existem os covardes que exterminam os bons corações da Terra.
A capacidade de guerra e maldade humana não surgiram neste século ou no passado. Sabemos todos, que essa é uma velha história. Onde, na maioria das vezes, os bons é que não têm final feliz (isso sim é contraditório). Entendo como bom todo aquele ser humano que não pensa somente em si e em seus interesses. Aquele que não esquece o outro sem ao menos conhecê-lo. Aquele que luta de alguma forma pelo fim das atrocidades humanas. Aquele que vê injustiça e desigualdade. Aquele que se atormenta quando vê. E como final feliz a continuação da vida, porque o outro lado não sei dizer se é bom.


Imagine o mundo todo só pra você, que coisa chata seria se eu o tivesse todo pra mim. O eterno e incansável sonho da paz na terra, e no coração das pessoas.

Bianca Garcia

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A novidade do bullying e a homofobia exagerada

       Fico me perguntando se as pessoas acreditam mesmo no que elas dizem ou se de tanto dizer acreditam. Me preocupo bastante com isso. Porque chega a ser banal como assuntos tão importantes são ridicularizados, ou, na inversão extrema, coisas sem valor nenhum são superdimensionadas.
       Os assuntos da moda são, portanto, bullying e homofobia. E, talvez, você assim como eu, não aguenta mais ouvir sobre. Todo dia, ou dia ou outro, os jornais estampam essas notícias. Mas o argumento que ninguém nunca sabe retrucar é: acham mesmo que bullying é novidade, que isso começou agora no formidável século XXI? E a homofobia, será que toda crítica a atitude homossexual será homofóbica?
       Padrões impostos pela sociedade sempre existiram. E comportamentos que julgam ideais também. Então, enquanto não ser magra ou muito magra já foi o padrão de beleza, hoje é o contrário. As pessoas estão a todo tempo em dietas, se não a procura. O que não faltam nas bancas de jornais são revistas que vendem fórmulas e formas de emagrecimento. Corpos esculturais e maquiados. Esses padrões quando desrespeitados provocam estranhamento e implicâncias. Daí surge, então, o bullying – um termo bonitinho e americanizado que nós brasileiros tomamos posse para nosso vocabulário, como fazemos muitas vezes. No entanto, isso sempre existiu. Ou você acha mesmo que ser muito magra, alta, usar óculos ou aparelhos na época da escola passava despercebido? Ou mesmo estar acima do próprio peso e ser tímida? Só que na minha época isso se chamava “pilha” e “zuações”, que deveriam ser encaradas e aceitas para que as brincadeiras não aumentassem. E aguentar, levar na brincadeira, não ficar triste nem levar desaforo para casa eram as regras do jogo.
       Já quanto a homofobia, a bandeira foi levantada. Estão todos juntos nessa causa. Mas vamos lá: cada um pode manifestar seus pensamentos sem que desrespeite o próximo, não é? Ou isso também não funciona pra gente? Contudo, a grande causa a ser fundamentada é o desrespeito ao outro por qualquer casal, seja ele heterossexual ou homossexual. Acredito que algumas pessoas não sabem pôr em prática esse pensamento e por isso são julgadas de homofóbicas. Talvez ela nem seja contra os casais do mesmo sexo, apenas não quer beijos quentes e cenas chocantes, que a deixe sem jeito. O que aconteceria também se o casal fosse hetero. Mas ao questionar isso somos claramente julgados como contra a união do mesmo sexo. Separar uma coisa da outra é muito complicado? Porque pelo que consta no Dicionário Priberam da Lingua Portuguesa, homofobia é a repulsa ou preconceito contra a homossexualidade ou os homossexuais. E no exemplo dado por mim é apenas uma opinião crítica e formada contra todo e qualquer casal. Seria, então, uma atitude homofóbica? 

       Bom, vale à pena pensar e repensar. Ouvir, respeitar.

Bianca Garcia

sexta-feira, 3 de junho de 2011


Rio de Janeiro, 03 de junho de 2011 
Alerj - Protesto dos bombeiros contra a má remuneração





 
A causa é justa. E eu apoio!

sábado, 21 de maio de 2011

O retrato de um transporte coletivo que muitos desconhecem

 
                                                Uma espera apreensiva - Central do Brasil

As cenas já se repetiram na tevê quanto à péssima qualidade do transporte coletivo, principalmente para a baixada fluminense e para a zona oeste da cidade do Rio – mas, claro, a zona oeste não inclui a Barra da Tijuca, aliás, se pudessem trocá-la de zona... É, infelizmente o jornalismo perdeu seu maior sentido: denunciar as mazelas sociais através da informação.
Nunca acreditei no disparate de que a violência adiantaria alguma coisa. Mas entendo a raiva, que sente uma massa, para se juntar e quebrar um trem, atear fogo e coisas do gênero as quais já tomamos conhecimento. Podem pensar, vocês leitores, que estou defendendo a atitude, no entanto, não defendo. Mas entendo. Imagine todos os dias as mesmas coisas? No caso do trem, superlotação, portas que não funcionam, calor, paradas repentinas ao léu. Já o ônibus, superlotação, calor - ou no caso de ônibus com ar, defeitos, brigas. Ah! Nessa opção não se pode esquecer, é claro, que tudo isso depende de uma coisa: o motorista parar quando você faz sinal.  Sim, ainda tem como você não conseguir pegar seu ônibus porque ele não para pra você.
Com tantas coisas para falar essa semana, escolhi a deficiência no transporte carioca. Mas em um espaço ínfimo ao que ela deveria ter, parabenizo a professora Amanda Gurgel, que em um desabafo claro e sucinto manifestou a indignação da classe dos professores. A dizer, tinha também o caso de cerca de 50 carros modelo Jetta comprados para os nossos digníssimos vereadores. E, ainda, a transformação do MEC em uma piada com sua ‘mais nova declaração’. Contudo, o espaço dado à professora foi preenchido com muita competência. Coisas que os políticos não fazem ao falar de transporte coletivo. E junto deles pessoas que não vivem essa realidade. A zona sul, por exemplo, é interligada e ônibus é o que não falta nessa parte da cidade, inclusive nas mais variadas horas.

Até quando vamos fechar os olhos para o problema? Ou deixá-los que fechem os olhos para nós?

"Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros." Ernesto Guevara


Uma carioca apaixonada pela cidade, Bianca Garcia

sábado, 14 de maio de 2011

Apoio aos bombeiros do Rio



"e por falar nisso...
bem, é melhor não falar nisso

quem sabe não vou deixar puto
alguém com influência no governo?
com amigos na polícia?

eu é que não vou
cair nessa conversa
de que todos são iguais perante a lei"
Nicolas Behr


Protestos são feitos a fim de reivindicar uma situação. E, muito certamente, a vez agora é dos militares cariocas. Padronizadamente, a resposta do governo é sempre a mesma, respondem de aumentos salariais anteriores e futuros. A história é a mesma: dentro dos futuros quatro anos todos os problemas serão resolvidos, inclusive os aumentos. Nós, obviamente, não acreditamos nessa mentira exposta pelo governo. Afinal, é rotineiramente que eles vangloriam os míseros aumentos, e prometem melhoras dentro de seus mandados.
E para não deixar crescer um movimento que vinha, essa semana, sendo insistido pelos bombeiros e por outros membros de corporações militares no centro da cidade maravilhosa dos cartões postais, resolveram abafar com a prisão dos líderes do protesto. Ahn? Atitude ditadorial? Engraçado como a mídia não fala muito sobre. A página principal da globo.com não menciona. Para sabermos do desenrolar do protesto, das novidades e das consequências temos que procurar no Google. E nele podemos encontrar O DIA e o R7 retratando o assunto e algumas outras pequenas notícias espalhadas por aí, mas nada que preencha toda a primeira página de busca (claro que me refiro às notícias dos protestos que aconteceram nessa semana, porque a página fica cheia quando se trata de protestos anteriores – não é a primeira vez que insistem nesse pedido). Será que compraram a mídia? Percebemos todos, ou deveríamos perceber, que mídia e política andam juntas hoje, e pensá-las separadamente é quase uma atividade impossível. Mas seu verdadeiro papel era se isentar de qualquer lado. Está aí algo que quando acontecer estaremos verdadeiramente com uma imprensa livre e numa democracia formal.
O governo veio a criticar a atitude dos bombeiros dizendo que estavam colocando a vida da população em risco, pois eles abandonaram os postos nas praias. Com razão, eles não pedem mais que condições de trabalho e reconhecimento por ele. Deveríamos nos conscientizar da importância de bombeiros e policiais militares no cotidiano da nossa vida.  Já pensou um dia sem eles? Já pensou no caos que entraríamos? A desordem tomaria conta da vida social. Sabendo da importância de seus trabalhos por que, então, ocultam esse reconhecimento? E lá no século XVII já se pronunciava Thomas Hobbes quanto ao caos promovido pelo homem, que muito bem definiu, nas sociedades primitivas, “era o lobo do próprio homem”. Ainda é. E olha que dizem por aí sobre evolução. Pois bem, quem tenta controlar essa guerra do homem contra ele mesmo são os policiais e os bombeiros. 

A causa pela qual os militares lutam é justa. A atitude do governo que não é.


Bianca Garcia

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Brincando com um trecho de Julio Verne

“Durante uma hora ponderei no meu cérebro em delírio todas as razões que teriam podido fazer agir o tranqüilo caçador. As mais absurdas idéias se emaranhavam em minha cabeça. Julguei que ia ficar louco.” Julio Verne – Viagem ao Centro da Terra

Olhando daqui de cima consigo perceber os vastos tipos de gente. Não refiro-me a cor e raça, pois nesse quesito o ser humano é um só, nada fisicamente o difere do outro. Também não é isso que um caçador busca. Quando se fala em caçador, facilmente nossa memória repuxa um homem com ferramentas e uma grande arma dentro de uma floresta em busca de animais. Mas não é esse caçador que estou observando. Ele é um caçador de gente. E este busca com os olhos mais límpidos o que difere com tanta eficácia os seres humanos. E por manter limpo os olhos consegue vê-las sem tornar-se perigoso. Seu olhar não intimida, aliás, quase nem é percebido. Está tranquilo.
Estou agora neste segundo andar do prédio observando os grupos que passam lá embaixo. São vários. De homens, de mulheres e de ambos os sexos. Há também as pessoas que estão sozinhas, ou, talvez, mais bem acompanhadas. No jeito de falar, de agir, de se mexer, de andar diferenciam-se umas das outras. E a aproximação dos que formam esses grupos ou não formam nenhum depende diretamente desses modelos. O fato de nos homogeneizarmos nesse pote que chamamos de mundo ou de nos distanciarmos dele é que nos traz questionamentos cujo respondê-los nos promove delírios, mas positivá-los depende de você que os analisam.
O caçador atenciosamente observa as pessoas. Seu olhar é instigante. E agora eu estou a observar o caçador. Percebo, através de seus olhos bem abertos e brilhantes, sua caça. Passo, então, a analisá-lo quanto à ela. Calado, sozinho e tranquilo ele encontra o que buscara.
As mais absurdas ideias se emaranharam em minha cabeça quando após o delírio vi no espelho, se afastando, o caçador. Pensei, nesse momento, ter sido preenchido pela loucura já que acreditei em um caçador que buscara o que distanciara os homens e quando vi que encontrara a personalidade, sua caça mais feroz, percebi que o caçador era eu mesmo.

Bianca Garcia