quarta-feira, 20 de abril de 2011

A rotina de uns finais de semana distantes

 Lembro-me das semanas ansiosas quando eu era criança à espera do sábado. Era dia de visitar a vovó. Uma viagem de uma hora e meia. Mas eu ficava quietinha observando o caminho. Ficava encantada com as montanhas, com a boa e linda estrada, com o cheirinho de ar puro. Gostava de abrir o vidro e sentir o vento no rosto. Sempre gostei de sentí-lo. Colocava a mão pra fora, quando meu pai deixava, para sentir a diferença do clima. E confesso que era divertido sentir o vento empurrando minha mão pra trás. Achava legal. 

Saíamos de casa às 14h. De manhã eu e minha irmã fazíamos a mala enquanto nossos pais estavam no trabalho. Depois era a vez deles. Nós ficávamos vendo televisão à espera. Por fim, era a hora de pôr tudo no carro, desligar os aparelhos, a televisão que ligamos para esperar e os ventiladores, e apagar as luzes. Hora de trancar toda casa. Lá íamos nós quatro.

Chegávamos à casa da vovó por volta das 16h e seus minutos. A viagem aumentara de tempo porque comíamos um sorvete no meio do caminho numa franquia de um fast food. Fazia parte da viagem. E também fazia parte o bolo de cenoura com cobertura de chocolate a minha espera, as rosquinhas caseiras aguardando pela minha irmã, o feijão preferido do meu pai. A espera da minha mãe não tinha nada em específico. É que na verdade as três delícias passavam por ela sempre. E vovó já sabia. 

Ficávamos o resto do sábado no chalé. Nada mais aconchegante que um. Espalhado pela casa nossas fotos com idade menor ainda. Algumas pelas paredes, outras pelos móveis. Chegando a noite era hora de se agasalhar. O clima de lá, na época, era bem diferente do clima da outra parte do Rio, que era onde eu morava. Mas eu adorava. Dormia de moletom cinza bem quentinho.

No domingo, bem cedo, já estava o café na mesa. Meu pai e minha vó que aprontavam, e bem atrativa ela ficava. Em seguida de nos alimentarmos com àquelas delícias, eu e minha irmã saíamos para encontrar nossos amigos de infância. Só nos encontrávamos nos finais de semana, nas férias, nas datas comemorativas e nos feriados. Mas as brincadeiras eram as mesmas e diversão nunca faltava. Uma pausa para o almoço e a digestão, depois era só correria de novo. Assim o domingo ia embora e a tristeza tomava conta de mim. Mas rapidinho ela dava uma volta quando em consenso decidíamos voltar pra casa às 5h da segunda – meus pais trabalhavam às 7h e eu estudava. Com essa decisão eu podia brincar mais um pouco e a noite curtir a vovó mais ainda.

Com carinho, minha mãe e meu pai me acordavam na madrugada. Mas eu fazia charminho de querer dormir mais. Sempre fui dorminhoca. Eu levantava e todos iam para o carro, que estava todo úmido. Era o resultado da fria madrugada. Seguíamos viagem. Às vezes eu tirava um cochilo no caminho, mas preferia lutar contra o sono e ver o amanhecer. O céu rosado, o vidro embaçado e eu encantada. Acho toda essa transição de horas muito bonita no céu.

           Chegando à nossa casa, um rápido café da manhã a gente tomava. Meu pai ficava direto no trabalho e minha mãe nos levava para nos aprontarmos pro colégio.


Era esse o começo de mais uma semana ansiosa pelo sábado.

Bianca Garcia

Um comentário:

  1. Maiiiis uma vez...
    você escreve muito bem
    seus textos são bem detalhados e me faz viajar pelas palavras, consigo visualizar cada descrição sua...
    isso me lembra os livros que eu leio...você deveria pensar nisso, pq não tenta escrever um livro?
    Adoro seus textos e um livro feito por vc seria melhor ainda ;)

    beijooos

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