quinta-feira, 22 de março de 2012

Uma menina, e eu

      A vi com aquele olhar baixo, de quem não tem muita expectativa para a vida. Os ombros caídos significavam cansaço, mas ainda era menina e, nessa idade, cansaço da vida é o que não existe. Estava quieta e distante de todos. Até conhecia outras meninas, mas preferiu refugiar-se em um banco solitário. Penso eu que algo não estava bem com ela, nada como dor de cabeça ou qualquer outro mal estar pessoal. Era desânimo. Um daqueles contagiantes.

       A olhei. Estávamos distantes e ela não me vira. Torci que sentasse ao meu lado. Não é todo dia que sinto vontade de falar com estranhos, mas com alguns especificamente até torço para que isso aconteça. Dizem que é coisa da alma, mas prefiro dizer que é coisa do momento. Ela não se sentou ao meu lado. Para minha decepção, preferiu àquele banco solitário.

        Nos olhamos. O meu olhar há minutos estava fixo na menina e talvez por essa sensação me olhara - é terrível a sensação de percebermos que alguém está nos olhando interminavelmente. Continuei. O seu olhar era vazio. Negros, profundos. Não tinha nada. Nem mesmo a procura pelos olhos que a perseguiam pelo caminho. Neste encontro de olhares, o meu estava claro que pedia uma conversa e um oi, talvez, não bastaria. Queria seus olhos de vida pela frente. Mas nada, ela não percebera. Talvez nem quisesse.

       Nem todo mundo enxerga motivos para procurar essa tal de felicidade que a gente finge que existe. Mas lá pelos doze ou treze anos os problemas de casa ou da escola não podem derrubar sua vida. E se não há como perceber isso sozinha, ou com os pais, a gente aprende na rua. Neste caso, queria ser essa parte da rua para a menina.

       Estava chegando ao meu destino. Inquietei-me. Queria em alguns minutos contar-lhe o que sei da vida. Não pode ser muita coisa, mas carrego boa bagagem nestes quase vinte e um anos. Queria tirar-lhe um sorriso ingênuo. Queria levantar seus ombros. Queria reencontrá-la, depois, como quem olha nos olhos... A menina ainda carregava um tom de ternura e era tão contagiante quanto seu desânimo.

        Me aproximei. Mais alguns metros e nunca mais iria encontrá-la. Neste instante, ficamos frente a frente. Não nos falamos. Permanecemos caladas durante os vinte minutos falantes da minha imaginação. Continuei a olhar em seus olhos. Dessa vez ela não me escapara. De novo me calei. E ela nem pensara em falar. Sorri. Ela também.

Bianca Garcia

3 comentários:

  1. Às vezes um sorriso é tudo o que basta. E um minuto a mais de experiência é muito para quem antes estava só.

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  2. Aconteceu, sim, Rodrigo. Em mais um desses meus percursos pelo Rio de Janeiro...

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