terça-feira, 13 de março de 2012

A agonia de um fracasso

Lá estava ela. Fraca, fraca. Suas asas já não a faziam voar. Estava agonizando em meio ao frio de um sujo chão. Alguns passos a ameaçavam e os gigantes passavam ao seu lado sem percebê-la. Ser pequeno deve ser chato, mas não mais chato que ser grande e não se fazer enxergar. Percebo os pequenos. Os observo. Talvez por este fato me deparei, várias vezes, com os menores agonizando. Os passos próximos à seu corpo me fazia torcer por uma morte mais rápida, sem qualquer sofrimento. Esmagá-la, talvez, infelizmente, fosse o melhor a ser feito. No entanto, mesmo muito próxima, eu não conseguia interromper sua vida, mesmo sabendo que sua dor seria menor. Não tive coragem. Fracassei. Esmagar os inferiores ao meu tamanho nunca foi uma diversão pra mim. Ela estava tremendo e seu corpo quase se deslocara da cabeça. Suas asas estavam branquinhas. Não poder voar é, no mínimo, uma péssima coisa. Rastejava-se. Rodava, rodava. Estava tonta, sem destino, caída em meio às sujeiras do mundo. O ar estava denso. Ela não conseguia respirar. Os ares estavam distantes. Saí. Nunca gostei de últimos suspiros. Preferi não ver. De novo, fracassei.

Bianca Garcia

Um comentário:

  1. Não querer sofrer o sofrimento "dos outros" não é fracasso, é defesa. Não conseguir encerrar o sofrimento "dos outros" não é fracasso, é medo da culpa. Ambos sentimentos justificáveis, e perfeitamente humanos.

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