sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Contra a injustiça em defesa do Rio: política ou espetáculo?

Marcado pelo entretenimento, protesto no Rio tenta sensibilizar Dilma e o Congresso

No último dia 10, o centro do Rio esteve reservado a uma manifestação promovida pelo governador Sérgio Cabral (PMDB), cujo lema era “Caminhada Contra a Injustiça em Defesa do Rio”. Com o objetivo de protestar contra as novas regras de distribuição dos royalties do petróleo, em breve pronunciamento, Cabral afirmou que o Estado do Rio não vai ceder ao projeto de lei que, segundo ele, prejudicaria o Estado.  “Nós não vamos ceder um real sequer do que já foi licitado por respeito ao diálogo e à democracia. O Rio é um estado essencialmente democrático, mas não vamos aceitar que avancem sobre receitas garantidas ao nosso povo”, garantiu Sérgio Cabral aos manifestantes.

O ato público contou com uma elaborada preparação. Dias antes do acontecimento, Sérgio Cabral afirmou que esperava a presença de cerca de 100 mil manifestantes para sensibilizar a presidenta Dilma Rousseff e o Congresso Nacional. Cabral promoveu uma coletiva de imprensa para convocar a população, decretou ponto facultativo – medida também tomada pelo prefeito Eduardo Paes -, espalhou faixas pela cidade e liberou meios de transporte para as pessoas irem à manifestação (ônibus pagos para as pessoas de Macaé e Campos e passagem gratuita nos horários de ida e volta para todos os moradores do Rio nos períodos de 13h às 15h – início da manifestação - e 20h às 22h – fim dos shows).


Apesar do apelo e da urgência da questão enfatizada pelo governador do Rio, nem todos os cariocas estavam de acordo com as justificativas apontadas para a realização do evento. Segundo o professor universitário Fábio Candido, a manifestação indicou “o desespero de um governo que teme perder uma receita importante para a manutenção de um certo projeto político, não necessariamente compatível com o bem estar do povo ao qual deveria se destinar”.


Para o humorista Anderson Gago, “o governo está usando o povo mais uma vez como massa de manobra, porque as pessoas não estão cientes do que realmente está acontecendo. Muita gente nem sabe o que são os royalties e acha que é uma marca de gelatina. Ao passar pela manifestação, vi um trio elétrico tocando Katy Perry, parecia mais uma parada gay do que uma manifestação séria em prol dos royalties do petróleo”.

Ao que parece, a “Caminhada Contra a Injustiça em Defesa do Rio” se tornou uma questão de números e de manipulação de uma imagem política. Com direito às mais variadas formas de espetáculo: trio elétrico, animador de plateia e shows com cantores e grupos populares. Também estiveram presentes no evento personalidades políticas e celebridades televisivas.


As manifestações têm pesos diferentes

O evento ocorrido na Cinelândia mostrou que a praça, outrora palco de grandes manifestações políticas, estava partida. De um lado, os manifestantes do “Ocupa Rio”, cuja visibilidade foi ignorada. Do outro, os participantes da “Caminhada Contra a Injustiça em Defesa do Rio”, que demonstravam estar radiantes ao som de bandas e cantores populares. Mas a “Caminhada” evidenciou, acima de tudo, o interesse do Governo do Estado em manter investimentos no Rio, mesmo que para isso tenha tido que decretar ponto facultivo para o funcionalismo público e realizar toda sorte de ações para chamar a atenção da população e da imprensa.

Por Bianca Garcia em O Estado RJ


Observação:
Esta matéria foi publicada no dia 12 de novembro na Editoria Estado.

2 comentários:

  1. É exatamente essa a realidade do nosso país. Tudo gira em torno dos interesses. Enquanto um movimento sério, que está acontecendo ao redor do mundo, é ignorado e até ridicularizado, outro que em nada mudaria a realidade atual tem tamanha divulgação. Digo "nada mudaria a realidade atual" porque, como vivo em Quissamã - maior renda per capta de royalties de petróleo no Brasil -, vivo ouvindo essas histórias. O que ninguém divulga é que, segundo o projeto de redivisão dos royalties, o Governo precisa ressarcir Estados/Cidades prejudicados. E esta cláusula causaria um rombo tão grande nos cofres públicos que eu duvido muito que a presidente Dilma sancione tal projeto.
    Bela matéria.

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  2. Obrigada!

    Pois é, Sandro. As coisas são muito complicadas por aqui. Agora, acabo de ler mais uma parte do joguinho do Cabral: a diminuição da carga horária de Filosofia no Rio. É ou não uma notícia entristecedora? Querem cercar o conhecimento de toda forma!

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