domingo, 13 de novembro de 2011

Cultura para quem pode pagar

Para quem se destinam os eventos culturais da cidade carioca?
São muitos os motivos que  trazem a infinidade de programas culturais cercando a cidade, inclusive, porque os maiores nomes da música brasileira, e até da estrangeira, têm o Rio como um ponto fixo de sua turnê pelo mundo. Os cariocas não podem reclamar da diversidade cultural que possuem ao seu redor. No entanto, ao tratar de valores, muda-se o cenário. Cultura é, então, um programa para a elite?
Em novembro, a elite carioca poderá contemplar o show de João Gilberto, músico brasileiro considerado o criador da Bossa Nova. Tendo sua apresentação realizada no Teatro Municipal, os ingressos variam de R$ 600 a R$ 8.400 reais. Neste caso, somente as classes altas poderão estar presentes. Um evento segregatório, já que membros da classe C, inclusive, não poderão pagar pelo valor desse ingresso. E, assim, também acontece com os espetáculos do Cirque du Soleil, onde as apresentações se restringem a um público fixo.

Segundo uma pesquisa realizada pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em 2010, os elevados valores excluem parte dos brasileiros quando se trata do “consumo” de cultura. A grande maioria dos entrevistados afirmou que os preços altos são obstáculos ao acesso à oferta cultural, sendo que 71% concordam que esse ponto é um importante empecilho à fruição de bens culturais. No entanto, 25% discordam e acreditam que os preços não se constituem em problema.

Cultura para quem?

Shows com preços acessíveis, eventos em praças públicas, museu com entrada franca, passeios históricos ao ar livre e peças teatrais com valores irrisórios existem pela cidade, mas quando se trata de ícones históricos, com presença no Rio, os eventos reúnem apenas a elite carioca. No entanto, cultura deveria ser para todos. “O governo ou os realizadores dos eventos elevam o valor dos ingressos com o objetivo de elitizar ou tentar fazer isso. E, dessa forma, a classe baixa tem que se contentar com os shows gratuitos nas areias de Copacabana e no Piscinão de Ramos em épocas festivas. Não há igualdade em nada, no final das contas, todo mundo é separado pela classe social”, indigna-se a estudante Tamires Ribeiro.

“A precificação atual de alguns grandes eventos tem como consequência elevar mesmo os níveis das pessoas no local, acredito. Mas existem eventos gratuitos, como o Rio Cello Encounter, por exemplo, onde a maioria faz parte das classes mais altas, como A e B. Na verdade, percebo que o maior problema atualmente recai sobre a meia-entrada para estudantes. Os organizadores de grandes eventos andam dobrando ou quadruplicando os valores dos ingressos para poder cumprir a lei de meia-entrada, que ao invés de possibilitar o envolvimento maior com a cultura, se tornou uma indústria de descontos”, completa a designer e empresária carioca, Cristiana Marroig.

Rio de Janeiro e os maiores eventos esportivos

O brasileiro, culturalmente, gosta e aprecia o futebol. Mas a Copa do Mundo e as Olímpiadas que acontecerão no Brasil, em 2014 e 2016, serão exemplos de como os elevados valores na arte e até no entretenimento segregam a sociedade. Fala-se apenas em valores. A superlotação dos estádios ainda não foi mencionada, já que os clássicos lotam os estádios cariocas sem qualquer esforço e em qualquer época do ano. Mas os cariocas esperam um preço justo para este evento que é uma de suas paixões.

Por Bianca Garcia em O Estado RJ


Observação:
Esta matéria foi publicada no dia 28 de outubro na Editoria Cultura.

2 comentários:

  1. Os altos preços cobrados têm duas explicações:

    A primeira é culpa do povo. Não é mais novidade para ninguém que hoje as pessoas se utilizam da lei da meia-entrada para ganhar descontos, mesmo quando não têm direito. Os organizadores de eventos também já sabem disso, e acabam estipulando o valor do ingresso para o dobro do desejado. Cito como exemplo o último show do Pearl Jam, para o qual comprei meia-entrada (como tenho direito por ser professor da rede pública) e entrei na apoteose sem que ninguém, em nenhum momento, tenho me pedido o documento que confirmasse meu direito.

    A segunda é realmente culpa da elite. A fim de evitar comportamentos indesejáveis no local do show, os organizadores de shows mais "alto nível" como o citado por você elevam o preço ao padrão da classe alta. Assim, não haverá filas homéricas, pessoas pegando o lugar marcado de outras, pessoas mal-educadas, esse tipo de coisa.

    Óbvio que o certo seria dar melhor educação ao povo, organizar melhor os eventos e cobrar preços mais acessíveis, mas tudo isso seria muito difícil.

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  2. Pois é, Sandro, são exatamente essas duas questões e por isso levantei-as.
    Infelizmente, a alta classe sempre leva vantagem. E a lei da meia-entrada, certamente, só contribui para que esses preços sejam cada vez mais altos.

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