segunda-feira, 9 de maio de 2011

Brincando com um trecho de Julio Verne

“Durante uma hora ponderei no meu cérebro em delírio todas as razões que teriam podido fazer agir o tranqüilo caçador. As mais absurdas idéias se emaranhavam em minha cabeça. Julguei que ia ficar louco.” Julio Verne – Viagem ao Centro da Terra

Olhando daqui de cima consigo perceber os vastos tipos de gente. Não refiro-me a cor e raça, pois nesse quesito o ser humano é um só, nada fisicamente o difere do outro. Também não é isso que um caçador busca. Quando se fala em caçador, facilmente nossa memória repuxa um homem com ferramentas e uma grande arma dentro de uma floresta em busca de animais. Mas não é esse caçador que estou observando. Ele é um caçador de gente. E este busca com os olhos mais límpidos o que difere com tanta eficácia os seres humanos. E por manter limpo os olhos consegue vê-las sem tornar-se perigoso. Seu olhar não intimida, aliás, quase nem é percebido. Está tranquilo.
Estou agora neste segundo andar do prédio observando os grupos que passam lá embaixo. São vários. De homens, de mulheres e de ambos os sexos. Há também as pessoas que estão sozinhas, ou, talvez, mais bem acompanhadas. No jeito de falar, de agir, de se mexer, de andar diferenciam-se umas das outras. E a aproximação dos que formam esses grupos ou não formam nenhum depende diretamente desses modelos. O fato de nos homogeneizarmos nesse pote que chamamos de mundo ou de nos distanciarmos dele é que nos traz questionamentos cujo respondê-los nos promove delírios, mas positivá-los depende de você que os analisam.
O caçador atenciosamente observa as pessoas. Seu olhar é instigante. E agora eu estou a observar o caçador. Percebo, através de seus olhos bem abertos e brilhantes, sua caça. Passo, então, a analisá-lo quanto à ela. Calado, sozinho e tranquilo ele encontra o que buscara.
As mais absurdas ideias se emaranharam em minha cabeça quando após o delírio vi no espelho, se afastando, o caçador. Pensei, nesse momento, ter sido preenchido pela loucura já que acreditei em um caçador que buscara o que distanciara os homens e quando vi que encontrara a personalidade, sua caça mais feroz, percebi que o caçador era eu mesmo.

Bianca Garcia

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