quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Nossa querida sociedade moderna

Na nossa ilustre sociedade líquida moderna - como Zygmunt Bauman muito bem a denomina, os bens têm importância, além de mercantil, de status. É nada mais nada menos isso que a publicidade vende: status. Ou se não vende propriamente dito, vende alusão à ele. Da mesma forma como as roupas têm de ser trocadas dos respectivos armários devido à alternância das estações e, por conseguinte, das novas modas e os carros ou meios tecnológicos tornam-se obsoletos, os relacionamentos humanos devem ter seus laços frouxos para que possam ser cortados, sem grande dificuldade, e remendado com outros. Com base nesse fato que correlaciono os produtos de consumo com o amor.
O conhecimento do amor como uma longa conquista, como algo duradouro e, por fim, com grande intensidade, como nos contos de fadas “felizes para sempre” está se esvaindo; em seu lugar, tende-se a ver a rapidez com que tudo se inicia, os impactos e, consequentemente, a curta duração dos relacionamentos. É algo como um desaprendizado desse sentimento. Seria por medo de suas consequências? Ou mesmo pelos diversos estímulos? O fato é que estamos conectados ao mundo inteiro, mas contato real com quase ninguém. O imaginário multilocalizado nos permite acesso a várias pessoas simultaneamente e, cada vez mais, as redes sociais, contribuem para esse esvaziamento que estamos vivenciando. Através delas, os romances tornam-se ainda mais virtuais e muitas das vezes não passam da tela do computador. Essas novas relações tornaram-se, portanto, mais pontuais, ou seja, atomizadas. E a desagregação desses grupos tornando o ser humano em "finas partículas sólidas" virtualizam até as relações pessoais diretas como quando encontramos um amigo, ao final da conversa dizemos: “tchau, beijos” ou “tchau, abraço”. Mesmo pessoalmente, eles não se beijam ou se abraçam de fato.
O mundo moderno exige instantaneidade e, com isso, seus habitantes não suportam as coisas duráveis e sólidas. Talvez seja essa a explicação do cuidado com elas para que não se tornem “caixas de aço” e, sim, de papel, a qual se pode, facilmente, pôr ao lado. Hoje, apaixonar-se é desapaixonar-se, visto que com a mesma rapidez com que dizem ter se apaixonado, dizem não estar preparados para uma vida a dois e que estão aproveitando e curtindo novas experiências, ainda completam dizendo a importância da pessoa naquele momento e que ela não tem culpa de nada, é somente uma decisão e uma fase da própria que põe o fim. Algo bastante traumatizante para quem ouve, torna-se um ‘ponta pé’ para a mudança no laço com outro ser humano e, assim, vemos, portanto, o início de uma corrente. Os óbvios riscos que correm os apaixonados e os famosos frios na barriga causados por esse sentimento tornaram-se monstros na visão desses líquidos cidadãos.
Percebo, ainda, "que ao mesmo tempo em que os indivíduos de nossa sociedade moderna desejam manter frouxos os laços humanos, desejam apertá-los. E daí surge o grande conflito estimulado pela insegurança". Então, a pergunta fundamental é: o que é necessário para preencher as páginas da vida?
As pessoas, hoje, adotam um modelo de vida onde há necessidade de um guia, de um palpitador, de um guru, seja lá o que for, ordenando suas ações. A leitura de revistas que palpitam no seu dia a dia, a realização de testes que vêm nelas – “Loiro ou moreno. Qual combina mais comigo?”, “Romântica ou ousada: quem eu sou?” e horóscopos lhes explicando os momentos de suas vidas e a hora adequada para a realização de certas tarefas são, nada mais nada menos, a certeza da insegurança presente na atual sociedade. Obviamente não é todo mundo que lê esse tipo de coisa, muito menos que acredita, mas é fato que essas revistas esvaziam diversas prateleiras de bancas e que aquele horóscopo bem curtinho do jornal é lido, às vezes, até por quem não crê nessa filosofia.

Bianca Garcia

Um comentário:

  1. Beleza de texto, Bianca!
    Muito lúcido e direto.
    Infelizmente, os valores estão invertidos.
    Importa, hoje, o TER, mais do que o SER.
    Grande erro.
    Ainda bem que há, ainda, pessoas como você.
    Parabéns pela reflexão.
    Escreva sempre.

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